terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Perigo Escondido Por Detrás Dos Filtros Solares


Muito se tem falado sobre a importância do uso de fotoprotetores diariamente visando à prevenção de cânceres de pele, manchas e envelhecimento precoce. O problema é que os filtros solares nem sempre são tão inofensivos quanto podem aparentar.
Isso porque muitos de seus componentes podem sim trazer outros malefícios para a nossa saúde. Por isso, meu objetivo hoje é orientá-los sobre como escolher protetores solares mais seguros. Para isto, vamos entender um pouquinho sobre seus diferentes tipos.

Classificação dos filtros solares (1)
Os filtros solares são divididos basicamente em orgânicos e inorgânicos, de acordo com a sua composição.
Os filtros solares orgânicos são formados por moléculas capazes de absorver a radiação UV e transformá-la em radiações com energias menores e inofensivas ao ser humano.
os filtros solares inorgânicos são representados pelos óxidos de zinco e titânio e são a forma mais segura e eficaz para proteger a pele, visto que apresentam baixo potencial de irritação. Exatamente por essa razão, são os filtros solares recomendados no preparo de fotoprotetores para uso infantil e para pessoas com peles sensíveis. Os filtros inorgânicos agem ao formarem uma camada sobre a pele, que não é absorvida e reflete a luz solar, evitando que esta cause os danos já conhecidos por nós.
Muitas vezes os fabricantes optam por associar ambos os tipos de protetores, objetivando reduzir a quantidade de filtros orgânicos incorporados na formulação. Assim, temos uma redução da oleosidade do produto e aumento da proteção solar.

Qual a quantidade ideal de produto a ser aplicado?
De acordo com o FDA, para garantirmos a eficácia dos fotoprotetores devemos aplicar 2 mg do produto por cm2 de pele. 


Vejamos agora alguns dos efeitos nocivos causados pelos filtros solares orgânicos.


Absorção pela pele e acúmulo no corpo humano (2,6)
A benzofenona-3 (BZ-3), utilizada para absorver a radiação ultravioleta (UV), é capaz de penetrar na pele e, por isso, é encontrada na urina. Para confirmar esses efeitos, 25 voluntários aplicaram um produto contendo BZ-3 durante a manhã e a noite, por 5 dias. A urina dessas pessoas foi avaliada durante esses 5 dias de estudo e, também, 5 dias após a última aplicação do filtro solar. Os resultados mostraram que a BZ-3 é realmente absorvida e se acumula no corpo humano, uma vez que esta continuou a ser excretada mesmo 5 dias após o término do experimento.
Outro estudo realizado com 35 voluntários saudáveis que aplicaram durante 1 semana uma formulação contendo BZ-3, octilmetoxicinamato (OMC) e 3-(4-metil)-benzilideno cânfora (4-MBC) confirmou que esses três filtros solares são absorvidos pelo organismo humano, já que todos foram detectados na urina.

Octilmetoxicinamato: Comprometimento do desenvolvimento reprodutivo e neurológico (3)
Segundo um estudo realizado em ratos, o uso do OMC, um filtro freqüentemente encontrado nas formulações cosméticas, leva ao comprometimento do desenvolvimento reprodutivo e neurológico desses animais, podendo ser um motivo de preocupação para os seres humanos.

Benzofenona-4: Efeitos estrogênicos (4)
Imagine que a cada banho que tomamos todo o filtro solar que estava no nosso corpo vai direto para o ralo e, consequentemente, para os rios. Assim, torna-se cada vez maior a contaminação dos afluentes por esses produtos. Por esse motivo, estudaram-se os efeitos do filtro solar benzofenona-4 (BZ-4) nos peixes. Essa substância apresentou atividade estrogênica em embriões e no cérebro adulto; e atividade antiestrogênica no fígado. Os resultados indicam que a BZ-4 interfere com o sistema hormonal de peixes, tornando importante a avaliação do risco deste filtro solar para humanos.

Poluição dos rios por filtros solares (5)
Foi realizado um estudo na Suíça onde se avaliou as concentrações de 9 filtros solares nas águas dos rios. Os quatro filtros mais encontrados foram a benzofenona-4, seguida da benzofenona-3, do 3-(4-metil)-benzilideno cânfora e do etilhexil metoxicinamato (EHMC), respectivamente. Os resultados sugerem, também, a acumulação dos filtros solares na cadeia alimentar, já que os animais maiores apresentaram as maiores concentrações de filtros no corpo.

Efeito estrogênico: Aumento do peso uterino e de células tumorais (7)

A aplicação dos filtros solares benzofenona, homosalato, 4-metil-benzilideno cânfora, octil-metoxicinamato, e octil-dimetil-PABA aumenta a proliferação de células desencadeantes de câncer de mama, levando também ao aumento do peso uterino, o que confirma o potencial estrogênico desses filtros.


Aumento do peso da tireóide, atraso do início da puberdade e redução do ganho de peso por ratas grávidas (8)

De acordo com uma pesquisa realizada na Suíça, os filtros UV representam uma nova classe de compostos químicos com atividade endócrina. Veja abaixo alguns resultados encontrados pelos estudiosos:
·         8/9 filtros estudados apresentaram estrogenicidade;
·         2/9 mostraram atividade antiandrogênica;
·         As benzofenonas-1, 2 e 3; o 3-benzilideno cânfora, a 4-metil-benzilideno cânfora e o octil-metoxicinamato aumentaram o peso uterino de ratos;
·         O ganho de peso de ratas grávidas foi reduzido pela 3-benzilideno cânfora;
·         O 3-benzilideno cânfora e a 4-metil-benzilideno cânfora atrasaram o início da puberdade em ratos machos;
·         Aumento do peso da tireóide pela 4-metil-benzilideno cânfora.

Octocrileno: Potencial alergênico (9)
Foi comprovado que o octocrileno, também muito encontrado nas formulações de fotoprotetores, é capaz de causar alergias de contato e por fotocontato.

Etilhexil metoxicinamato: Múltiplas atividades hormonais (10)
O etilhexil metoxicinamato (EHMC) induz significativamente a alterações histológicas dos ovários de peixes e a redução dos espermatócitos, sugerindo efeitos estrogênicos e antiandrogênicos do EHMC. Desta forma, conclui-se que essa substância apresenta múltiplas atividades hormonais em peixes.

Bom, acho que já assustei vocês o bastante, não é mesmo?! Infelizmente, essas informações são muito pouco divulgadas na mídia, apesar do assunto “filtros solares” ser um dos favoritos por aí. Mas como eu citei no início da matéria, meu objetivo é orientá-los sobre uma escolha mais segura.
Agora parem e pensem um pouquinho... Não é difícil imaginar como seria esse fotoprotetor seguro, não é mesmo?! Os mais recomendamos e menos agressivos para nós humanos são, portanto, aqueles compostos apenas por filtros solares inorgânicos (óxido de zinco e dióxido de titânio) e para descobrirmos isto basta darmos uma olhadinha no rótulo dos produtos. Se vocês encontrarem qualquer uma das substâncias citadas anteriormente nos estudos, significa que o produto não é tão legal assim.

Exemplo de fotoprotetor composto apenas por filtros solares ORGÂNICOS:


Composição: benzophenone-3; butyl methoxydibenzoylmethane; ethylhexyl methoxycinnamate; homosalate; octyl salicylate; barium sulfate; disodium EDTA; methylparaben; carbomer; sorbitol solution; triethanolamine; benzilic alcohol; phenethyl alcohol; tocopheryl acetate; stearic acid; sorbitan isostearate; aloe barbadensis; polyglyceryl-3 distearate; propylparaben; octadecene/MA copolymer; dimethicone; hydrogenated jojoba oil e aqua.


Exemplo de fotoprotetor composto apenas por filtros solares INORGÂNICOS:

Composição: Aqua, Titanium Dioxide, Cyclohexasiloxane, Isononyl Isononanoate, Zinc Oxide, Polyglyceryl-4 Isostearate, Cetyl PEG/PPG-10/1 Dimethicone, Hexyl Laurate, Butylene Glycol, Cetyl Dimethicone, Cyclopentasiloxane, Polymethyl Methacrylate, Glycerin, Styrene/Acrylates Copolymer, Alumina, Methyl Glucose Sesquistearate, Isohexadecane, Chrysanthemum Parthenium Extract, Linseed Acid, Dimethicone, Stearic Acid, PEG-40 Castor Oil, Sodium Dodecylbenzenesulfonate, Ammonium Polyacrylate, PEG-8 Laurate, Aluminum/Magnesium Hydroxide Stearate, Xanthan Gum, Tocopheryl Acetate, Phenoxyethanol, Methylparaben, Propylparaben, Chlorhexidine Digluconate.


Até a próxima!!! J


Referências Bibliográficas
1. Flor, Juliana; Davolosl, Marian Rosaly; Correa, Marcos Antonio. Sunscreens. Quím. Nova vol.30 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2007
2. Gonzalez H, Farbrot A, Larko O, Wennberg AM. Percutaneous absorption of the sunscreen benzophenone-3 after repeated whole-body applications, with and without ultraviolet irradiation. Br J Dermatol. 2006 Feb;154(2):337-40. PMID: 16433806
3. Axelstad M, Boberg J, Hougaard KS, et al. Effects of pre- and postnatal exposure to the UV-filter octyl methoxycinnamate (OMC) on the reproductive, auditory and neurological development of rat offspring. Toxicol Appl Pharmacol. 2011 Feb 1;250(3):278-90. Epub 2010 Nov 6. PMID: 21059369
4. Zucchi S, Blüthgen N, Ieronimo A, Fent K. The UV-absorber benzophenone-4 alters transcripts of genes involved in hormonal pathways in zebrafish (Danio rerio) eleuthero-embryos and adult males. Toxicol Appl Pharmacol. 2011 Jan 15;250(2):137-46. Epub 2010 Oct 16. PMID: 20937294
5. Fent K, Zenker A, Rapp M. Widespread occurrence of estrogenic UV-filters in aquatic ecosystems in Switzerland. Environ Pollut. 2010 May;158(5):1817-24. Epub 2009 Dec 9. PMID: 20004505
6. Janjua NR, Mogensen B,et al. Systemic absorption of the sunscreens benzophenone-3, octyl-methoxycinnamate, and 3-(4-methyl-benzylidene) camphor after whole-body topical application and reproductive hormone levels in humans. J Invest Dermatol. 2004 Jul;123(1):57-61. PMID: 15191542
7. Schlumpf M, Cotton B et al. In vitro and in vivo estrogenicity of UV screens. Environ Health Perspect. 2001 Mar;109(3):239-44. PMID: 11333184
8. Schlumpf M, Schmid P, et al. Endocrine activity and developmental toxicity of cosmetic UV filters--an update. Toxicology. 2004 Dec 1;205(1-2):113-22. PMID: 15458796
9. Karlsson I, Vanden Broecke K, et al. Clinical and experimental studies of octocrylene's allergenic potency. Contact Dermatitis. 2011 Jun;64(6):343-52. doi: 10.1111/j.1600-0536.2011.01899.x. Epub 2011 Apr 19. PMID: 21504434
10. Christen V, Zucchi S, Fent K. Effects of the UV-filter 2-ethyl-hexyl-4-trimethoxycinnamate (EHMC) on expression of genes involved in hormonal pathways in fathead minnows (Pimephales promelas) and link to vitellogenin induction and histology. Aquat Toxicol. 2011 Apr;102(3-4):167-76. Epub 2011 Feb 2. PMID: 21356179