terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Perigo Escondido Por Detrás Dos Filtros Solares


Muito se tem falado sobre a importância do uso de fotoprotetores diariamente visando à prevenção de cânceres de pele, manchas e envelhecimento precoce. O problema é que os filtros solares nem sempre são tão inofensivos quanto podem aparentar.
Isso porque muitos de seus componentes podem sim trazer outros malefícios para a nossa saúde. Por isso, meu objetivo hoje é orientá-los sobre como escolher protetores solares mais seguros. Para isto, vamos entender um pouquinho sobre seus diferentes tipos.

Classificação dos filtros solares (1)
Os filtros solares são divididos basicamente em orgânicos e inorgânicos, de acordo com a sua composição.
Os filtros solares orgânicos são formados por moléculas capazes de absorver a radiação UV e transformá-la em radiações com energias menores e inofensivas ao ser humano.
os filtros solares inorgânicos são representados pelos óxidos de zinco e titânio e são a forma mais segura e eficaz para proteger a pele, visto que apresentam baixo potencial de irritação. Exatamente por essa razão, são os filtros solares recomendados no preparo de fotoprotetores para uso infantil e para pessoas com peles sensíveis. Os filtros inorgânicos agem ao formarem uma camada sobre a pele, que não é absorvida e reflete a luz solar, evitando que esta cause os danos já conhecidos por nós.
Muitas vezes os fabricantes optam por associar ambos os tipos de protetores, objetivando reduzir a quantidade de filtros orgânicos incorporados na formulação. Assim, temos uma redução da oleosidade do produto e aumento da proteção solar.

Qual a quantidade ideal de produto a ser aplicado?
De acordo com o FDA, para garantirmos a eficácia dos fotoprotetores devemos aplicar 2 mg do produto por cm2 de pele. 


Vejamos agora alguns dos efeitos nocivos causados pelos filtros solares orgânicos.


Absorção pela pele e acúmulo no corpo humano (2,6)
A benzofenona-3 (BZ-3), utilizada para absorver a radiação ultravioleta (UV), é capaz de penetrar na pele e, por isso, é encontrada na urina. Para confirmar esses efeitos, 25 voluntários aplicaram um produto contendo BZ-3 durante a manhã e a noite, por 5 dias. A urina dessas pessoas foi avaliada durante esses 5 dias de estudo e, também, 5 dias após a última aplicação do filtro solar. Os resultados mostraram que a BZ-3 é realmente absorvida e se acumula no corpo humano, uma vez que esta continuou a ser excretada mesmo 5 dias após o término do experimento.
Outro estudo realizado com 35 voluntários saudáveis que aplicaram durante 1 semana uma formulação contendo BZ-3, octilmetoxicinamato (OMC) e 3-(4-metil)-benzilideno cânfora (4-MBC) confirmou que esses três filtros solares são absorvidos pelo organismo humano, já que todos foram detectados na urina.

Octilmetoxicinamato: Comprometimento do desenvolvimento reprodutivo e neurológico (3)
Segundo um estudo realizado em ratos, o uso do OMC, um filtro freqüentemente encontrado nas formulações cosméticas, leva ao comprometimento do desenvolvimento reprodutivo e neurológico desses animais, podendo ser um motivo de preocupação para os seres humanos.

Benzofenona-4: Efeitos estrogênicos (4)
Imagine que a cada banho que tomamos todo o filtro solar que estava no nosso corpo vai direto para o ralo e, consequentemente, para os rios. Assim, torna-se cada vez maior a contaminação dos afluentes por esses produtos. Por esse motivo, estudaram-se os efeitos do filtro solar benzofenona-4 (BZ-4) nos peixes. Essa substância apresentou atividade estrogênica em embriões e no cérebro adulto; e atividade antiestrogênica no fígado. Os resultados indicam que a BZ-4 interfere com o sistema hormonal de peixes, tornando importante a avaliação do risco deste filtro solar para humanos.

Poluição dos rios por filtros solares (5)
Foi realizado um estudo na Suíça onde se avaliou as concentrações de 9 filtros solares nas águas dos rios. Os quatro filtros mais encontrados foram a benzofenona-4, seguida da benzofenona-3, do 3-(4-metil)-benzilideno cânfora e do etilhexil metoxicinamato (EHMC), respectivamente. Os resultados sugerem, também, a acumulação dos filtros solares na cadeia alimentar, já que os animais maiores apresentaram as maiores concentrações de filtros no corpo.

Efeito estrogênico: Aumento do peso uterino e de células tumorais (7)

A aplicação dos filtros solares benzofenona, homosalato, 4-metil-benzilideno cânfora, octil-metoxicinamato, e octil-dimetil-PABA aumenta a proliferação de células desencadeantes de câncer de mama, levando também ao aumento do peso uterino, o que confirma o potencial estrogênico desses filtros.


Aumento do peso da tireóide, atraso do início da puberdade e redução do ganho de peso por ratas grávidas (8)

De acordo com uma pesquisa realizada na Suíça, os filtros UV representam uma nova classe de compostos químicos com atividade endócrina. Veja abaixo alguns resultados encontrados pelos estudiosos:
·         8/9 filtros estudados apresentaram estrogenicidade;
·         2/9 mostraram atividade antiandrogênica;
·         As benzofenonas-1, 2 e 3; o 3-benzilideno cânfora, a 4-metil-benzilideno cânfora e o octil-metoxicinamato aumentaram o peso uterino de ratos;
·         O ganho de peso de ratas grávidas foi reduzido pela 3-benzilideno cânfora;
·         O 3-benzilideno cânfora e a 4-metil-benzilideno cânfora atrasaram o início da puberdade em ratos machos;
·         Aumento do peso da tireóide pela 4-metil-benzilideno cânfora.

Octocrileno: Potencial alergênico (9)
Foi comprovado que o octocrileno, também muito encontrado nas formulações de fotoprotetores, é capaz de causar alergias de contato e por fotocontato.

Etilhexil metoxicinamato: Múltiplas atividades hormonais (10)
O etilhexil metoxicinamato (EHMC) induz significativamente a alterações histológicas dos ovários de peixes e a redução dos espermatócitos, sugerindo efeitos estrogênicos e antiandrogênicos do EHMC. Desta forma, conclui-se que essa substância apresenta múltiplas atividades hormonais em peixes.

Bom, acho que já assustei vocês o bastante, não é mesmo?! Infelizmente, essas informações são muito pouco divulgadas na mídia, apesar do assunto “filtros solares” ser um dos favoritos por aí. Mas como eu citei no início da matéria, meu objetivo é orientá-los sobre uma escolha mais segura.
Agora parem e pensem um pouquinho... Não é difícil imaginar como seria esse fotoprotetor seguro, não é mesmo?! Os mais recomendamos e menos agressivos para nós humanos são, portanto, aqueles compostos apenas por filtros solares inorgânicos (óxido de zinco e dióxido de titânio) e para descobrirmos isto basta darmos uma olhadinha no rótulo dos produtos. Se vocês encontrarem qualquer uma das substâncias citadas anteriormente nos estudos, significa que o produto não é tão legal assim.

Exemplo de fotoprotetor composto apenas por filtros solares ORGÂNICOS:


Composição: benzophenone-3; butyl methoxydibenzoylmethane; ethylhexyl methoxycinnamate; homosalate; octyl salicylate; barium sulfate; disodium EDTA; methylparaben; carbomer; sorbitol solution; triethanolamine; benzilic alcohol; phenethyl alcohol; tocopheryl acetate; stearic acid; sorbitan isostearate; aloe barbadensis; polyglyceryl-3 distearate; propylparaben; octadecene/MA copolymer; dimethicone; hydrogenated jojoba oil e aqua.


Exemplo de fotoprotetor composto apenas por filtros solares INORGÂNICOS:

Composição: Aqua, Titanium Dioxide, Cyclohexasiloxane, Isononyl Isononanoate, Zinc Oxide, Polyglyceryl-4 Isostearate, Cetyl PEG/PPG-10/1 Dimethicone, Hexyl Laurate, Butylene Glycol, Cetyl Dimethicone, Cyclopentasiloxane, Polymethyl Methacrylate, Glycerin, Styrene/Acrylates Copolymer, Alumina, Methyl Glucose Sesquistearate, Isohexadecane, Chrysanthemum Parthenium Extract, Linseed Acid, Dimethicone, Stearic Acid, PEG-40 Castor Oil, Sodium Dodecylbenzenesulfonate, Ammonium Polyacrylate, PEG-8 Laurate, Aluminum/Magnesium Hydroxide Stearate, Xanthan Gum, Tocopheryl Acetate, Phenoxyethanol, Methylparaben, Propylparaben, Chlorhexidine Digluconate.


Até a próxima!!! J


Referências Bibliográficas
1. Flor, Juliana; Davolosl, Marian Rosaly; Correa, Marcos Antonio. Sunscreens. Quím. Nova vol.30 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2007
2. Gonzalez H, Farbrot A, Larko O, Wennberg AM. Percutaneous absorption of the sunscreen benzophenone-3 after repeated whole-body applications, with and without ultraviolet irradiation. Br J Dermatol. 2006 Feb;154(2):337-40. PMID: 16433806
3. Axelstad M, Boberg J, Hougaard KS, et al. Effects of pre- and postnatal exposure to the UV-filter octyl methoxycinnamate (OMC) on the reproductive, auditory and neurological development of rat offspring. Toxicol Appl Pharmacol. 2011 Feb 1;250(3):278-90. Epub 2010 Nov 6. PMID: 21059369
4. Zucchi S, Blüthgen N, Ieronimo A, Fent K. The UV-absorber benzophenone-4 alters transcripts of genes involved in hormonal pathways in zebrafish (Danio rerio) eleuthero-embryos and adult males. Toxicol Appl Pharmacol. 2011 Jan 15;250(2):137-46. Epub 2010 Oct 16. PMID: 20937294
5. Fent K, Zenker A, Rapp M. Widespread occurrence of estrogenic UV-filters in aquatic ecosystems in Switzerland. Environ Pollut. 2010 May;158(5):1817-24. Epub 2009 Dec 9. PMID: 20004505
6. Janjua NR, Mogensen B,et al. Systemic absorption of the sunscreens benzophenone-3, octyl-methoxycinnamate, and 3-(4-methyl-benzylidene) camphor after whole-body topical application and reproductive hormone levels in humans. J Invest Dermatol. 2004 Jul;123(1):57-61. PMID: 15191542
7. Schlumpf M, Cotton B et al. In vitro and in vivo estrogenicity of UV screens. Environ Health Perspect. 2001 Mar;109(3):239-44. PMID: 11333184
8. Schlumpf M, Schmid P, et al. Endocrine activity and developmental toxicity of cosmetic UV filters--an update. Toxicology. 2004 Dec 1;205(1-2):113-22. PMID: 15458796
9. Karlsson I, Vanden Broecke K, et al. Clinical and experimental studies of octocrylene's allergenic potency. Contact Dermatitis. 2011 Jun;64(6):343-52. doi: 10.1111/j.1600-0536.2011.01899.x. Epub 2011 Apr 19. PMID: 21504434
10. Christen V, Zucchi S, Fent K. Effects of the UV-filter 2-ethyl-hexyl-4-trimethoxycinnamate (EHMC) on expression of genes involved in hormonal pathways in fathead minnows (Pimephales promelas) and link to vitellogenin induction and histology. Aquat Toxicol. 2011 Apr;102(3-4):167-76. Epub 2011 Feb 2. PMID: 21356179

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tribulus terrestris: Aumento da Testosterona Endógena e Eficácia no Tratamento da Disfunção Erétil

Verdade ou Mito?



Passei os últimos dias pensando sobre qual seria o meu próximo tema para o blog e mil assuntos diferentes vieram à minha cabeça. Inicialmente, a idéia era falar novamente sobre cuidados com a pele, mas depois de ouvir alguns comentários na academia sobre o Tribulus terrestris, achei que deveria iniciar a semana com esse tema. E, ao contrário do que aconteceu com a matéria sobre a creatina, dessa vez não tive nenhuma surpresa agradável durante as minhas pesquisas.
Primeiramente, o Tribulus terrestris é uma planta que há muitos anos, ou até mesmo séculos, vem sido utilizada com o objetivo de aumentar os níveis de testosterona no corpo humano. Dessa forma, ele seria indicado nos tratamentos de impotência sexual ou apenas como estimulante e, também, visando o aumento de massa corpórea em praticantes de atividades físicas, sendo por este motivo apelidado de "anabolizante natural".
Acredito que, se eu terminasse a matéria agora, muitos de vocês estariam interessados nessa plantinha, certo?
O problema é que todos esses efeitos do Tribulus terrestris caem por terra ao final das pesquisas científicas. Juro que tentei encontrar artigos que me convencesse do contrário, mas não foi possível. Quer dizer, eu até encontrei alguma coisa, mas os estudos eram todos feitos em coelhos, ratos... Por isso, acredito que não servem como prova científica para nós.
Como de costume, citarei agora alguns desses trabalhos acadêmicos que nos mostram que o uso dessa planta não é tão interessante como dito por aí.



Tribulus terrestris x Aumento de Força e Massa Muscular (1,2)
Visando avaliar os efeitos da suplementação de Tribulus terrestris na força e massa muscular magra, vinte e dois jogadores de uma elite de rugby masculino foram divididos em dois grupos:

O “grupo tratamento” recebeu, diariamente, 450 mg de Tribulus terrestris, durante 5 semanas. Já o "grupo placebo” apenas cápsulas sem substâncias com atividade terapêutica. Todos os jogadores foram também submetidos a treinamentos pesados de resistência.

Os resultados mostraram que após as 5 semanas, os atletas de ambos os grupos apresentaram aumento significativo de força e massa magra. Assim, conclui-se que o tratamento com Tribulus terrestris não gera nenhum benefício  nesses parâmetros, sendo esses valores positivos atribuídos apenas ao treino de resistência.

Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo onde a dose diária de Tribulus terrestris avaliada foi de 3,21 mg/kg de peso.


Tribulus terrestris x Aumento dos Níveis de Testosterona em Mulheres (3)
Esse suplemento nutricional também foi testado em mulheres. Para isto, duas voluntárias receberam 500 mg de Tribulus terrestris, duas vezes ao dia, durante um período de dois dias consecutivos. Os resultados mostraram que a suplementação não causa impacto no metabolismo da testosterona endógena.


Tribulus terrestris x Produção de Testosterona em Jovens (4,5)
Um estudo realizado com 21 homens saudáveis, com idade entre 20 e 36 anos, que receberam a suplementação de Tribulus terrestris (10 ou 20 mg da droga/kg de peso corporal/3 vezes ao dia), durante 4 semanas mostrou que essa planta não apresenta efeito direto ou indireto no aumento dos níveis séricos de testosterona, androstenediona e hormônio luteinizante.
Os mesmos resultados foram ainda encontrados por pesquisadores americanos que avaliaram o efeito da associação de 300 mg de androstenediona, 150 mg de DHEA (dehidroepiandrosterona), 750 mg de Tribulus terrestris, 625 mg de crisina, 300 mg de indol-3-carbinol e 540 mg de Serenoa repens.


Tribulus terrestris x Hepato, Nefro e Neurotoxicidade (6)

O Tribulus terrestris também é muito utilizado no tratamento de cálculos renais, já que sua atividade antiurolítica inibe quase que completamente a formação das pedras nos rins. Entretanto, um paciente que utilizou o suplemento com essa finalidade acabou apresentando quadro de hepatotoxicidade, nefrotoxicidade e neurotoxicidade (dano no fígado, rins e cérebro, respectivamente).
Felizmente, a descontinuidade do tratamento herbal resultou na melhora dos sintomas e normalização das enzimas hepáticas.


Tribulus terrestris x Disfunção Erétil
Como citei anteriormente, encontrei sim alguns estudos falando que o Tribulus terrestris pode ser eficaz no tratamento da disfunção erétil, entretanto, nada disso foi comprovado em humanos.

Apesar de achar que estudos com animais podem ser válidos, acredito também que os resultados devem ser comprovados posteriormente em seres humanos, ok?! Desta forma, eu continuo particularmente descrente sobre esse assunto.



Referências Bibliográficas
1.     Rogerson S, Riches CJ, Jennings C, Weatherby RP, Meir RA, Marshall-Gradisnik SM. The effect of five weeks of Tribulus terrestris supplementation on muscle strength and body composition during preseason training in elite rugby league players. J Strength Cond Res. 2007 May;21(2):348-53. PMID: 17530942
2.     Antonio J, Uelmen J, Rodriguez R, Earnest C. The effects of Tribulus terrestris on body composition and exercise performance in resistance-trained males. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2000 Jun;10(2):208-15. PMID: 10861339
3.     Saudan C, Baume N, Emery C, Strahm E, Saugy M. Short term impact of Tribulus terrestris intake on doping control analysis of endogenous steroids. Forensic Sci Int. 2008 Jun 10;178(1):e7-10. Epub 2008 Feb 20. PMID: 18282674
4.     Neychev VK, Mitev VI. The aphrodisiac herb Tribulus terrestris does not influence the androgen production in young men. J Ethnopharmacol. 2005 Oct 3;101(1-3):319-23. PMID: 15994038
5.     Brown GA, Vukovich MD, Reifenrath TA, Uhl NL, Parsons KA, Sharp RL, King DS. Effects of anabolic precursors on serum testosterone concentrations and adaptations to resistance training in young men. Int J Sport Nutr Exerc Metab. 2000 Sep;10(3):340-59. PMID: 10997957
6.     Talasaz AH, Abbasi MR, Abkhiz S, Dashti-Khavidaki S. Tribulus terrestris-induced severe nephrotoxicity in a young healthy male. Nephrol Dial Transplant. 2010 Nov;25(11):3792-3. Epub 2010 Jul 28. PMID: 20667992

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Creatina: Suplemento Seguro, Benéfico, Eficaz e de Baixo Custo





Caminhando na contramão de muitos “ditos populares”, hoje falarei sobre o uso da creatina como suplemento esportivo e seus benefícios.

Para ser sincera, quando eu tive a idéia de escrever sobre a matéria, achei que iria encontrar diversos estudos mostrando sua toxicidade, principalmente renal, mas para minha surpresa e alegria, os achados foram opostos às minhas expectativas.

Até onde me recordo o meu “pré-conceito” contra esse suplemento surgiu durante as aulas de bioquímica na faculdade e até hoje (literalmente!) era uma verdade para mim. Isso porque, o que mais ouvimos nas academias e clínicas médicas, é que seu uso compromete os rins e, por isso, ela deveria ser banida.

Após o término dessa matéria, espero mostrar o quanto esses boatos são errôneos e que, o que realmente falta, é muito estudo e atualização sobre o assunto.


Afinal, o que é creatina?

A creatina é uma substância composta pelos aminoácidos glicina e arginina, sendo produzida naturalmente pelo organismo humano. É muito utilizada nas práticas esportivas, uma vez que esse suplemento é capaz de estimular a produção de proteínas e evitar sua degradação, além de prevenir a depleção de ATP (adenosina trifosfato), responsável pelo armazenamento da nossa energia.


Creatina x Funções Hepática e Renal (1,2,3)

Antes de comprovar os benefícios da creatina nas práticas esportivas, gostaria de falar sobre a segurança do seu uso. Afinal, acredito que isso seja o que realmente importa para nós.

Segundo um estudo recente, de maio de 2011, o uso da creatina em doses altas (20 g/dia) não provoca nenhuma alteração nas funções dos rins. Entretanto, os pesquisadores advertem que pessoas que já apresentam algum tipo de doença ou alteração renal, podem sim fazer o uso de creatina, desde que a dose diária não ultrapasse 3 a 5 g. Eles ainda acrescentam que exames podem ser feitos antes do inicio da suplementação, mas que isso parece ser desnecessário para indivíduos saudáveis.

Em outro estudo, pacientes portadores de diabetes tipo II fora selecionados para receber a suplementação de creatina durante 12 semanas juntamente com a prática de atividade física. Após o tratamento e a interpretação de diversos exames laboratoriais, verificou-se que essa suplementação é segura, mesmo para pessoas portadoras de diabetes.

Para finalizar esse tópico, encontrei um terceiro estudo realizado com um paciente que tinha apenas um rim e que mesmo assim recebeu a suplementação de creatina. Os achados mostram, mais uma vez, a segurança do uso desse suplemento.


Creatina x Diabetes Tipo II (3)

Além de segura para pacientes diabéticos, a suplementação diária de 5 g de creatina, combinada com exercícios físicos, melhora o controle glicêmico de indivíduos com diabetes tipo II.


Creatina x Doenças Cardiovasculares (4)

Acreditem, mas existem estudos relacionando a suplementação de creatina com a prevenção de doenças cardiovasculares. Segundo essa pesquisa, esse efeito benéfico da creatina está relacionado à redução dos níveis séricos de homocisteína (He), uma proteína formada no fígado, que é associada ao aumento do risco de doenças do coração. Os autores ainda acrescentam que essa resposta independe da intensidade do exercício físico.


Creatina x Atividade Física (5,6,7,8,9,10)

A suplementação de creatina, independente de treinos de resistência, aumenta:
·         Massa corpórea;
·         Resistência à fadiga;
·         Força muscular.

Quando associados, todos esses fatores levam à melhora da qualidade de vida das pessoas, sem efeitos adversos e/ou alto custo. Além disso, a suplementação de creatina aumenta o pool de fosfocreatina no músculo esquelético, responsável por prover a reserva de energia consumida durante a contração muscular.

Se associada à prática esportiva, são observados os aumentos da:
·         Resistência à fadiga muscular;
·         Recuperação da força muscular;
·         Hipertrofia muscular.


Creatina x Sarcopenia e DMO (11,12)

Com o avanço da idade, há uma redução natural de massa muscular, densidade óssea (DMO) e força. Que tal, então, revertermos todo esse processo com o uso de creatina?! De acordo com uma publicação americana, a suplementação diária de creatina é capaz de tudo isso, melhorando a qualidade de vida e performance nas atividades rotineiras dos idosos. Em adição, associada a treinos de resistência, resulta em uma melhora ainda maior na densidade mineral óssea, quando comparada aos treinos de resistência isolados.


Creatina x Funções Cognitivas em Jovens e Adultos (13)

A suplementação de creatina parece resultar no aumento dos seus níveis cerebrais. Dessa forma, há uma melhora da performance neuropsicológica, prevenindo as disfunções cognitivas em jovens e adultos.


Dose de Creatina Usada nos Estudos

Em geral, a dose de creatina utilizada nos estudos científicos variou entre 2 e 3 g/dia, não ultrapassando valores superiores a 5 g/dia.




Referências Bibliográficas
1.         Kim HJ, Kim CK, Carpentier A, Poortmans JR. Studies on the safety of creatine supplementation. Amino Acids. 2011 May;40(5):1409-18. PMID: 21399917
2.         Gualano B, Ferreira DC, Sapienza MT, Seguro AC, Lancha AH Jr. Effect of short-term high-dose creatine supplementation on measured GFR in a young man with a single kidney. Am J Kidney Dis. 2010 Mar;55(3):e7-9. Epub 2010 Jan 8. PMID: 20060630
3.         Gualano B, de Salles Painelli V, et al. Creatine supplementation does not impair kidney function in type 2 diabetic patients: a randomized, double-blind, placebo-controlled, clinical trial. 2011 May;111(5):749-56. Epub 2010 Oct 26. PMID: 20976468
4.         Deminice R, Vannucchi H, Simões-Ambrosio LM, Jordao AA. Creatine supplementation reduces increased homocysteine concentration induced by acute exercise in rats. Eur J Appl Physiol. 2011 Mar 11. PMID:21394640
5.         Rawson ES, Stec MJ, Frederickson SJ, Miles MP. Low-dose creatine supplementation enhances fatigue resistance in the absence of weight gain. Nutrition. 2011 Apr;27(4):451-5. Epub 2010 Jul 1. PMID: 20591625
6.         Cooke MB, Rybalka E, Williams AD, Cribb PJ, Hayes A. Creatine supplementation enhances muscle force recovery after eccentrically-induced muscle damage in healthy individuals. J Int Soc Sports Nutr. 2009 Jun 2;6:13. PMID: 19490606
7.         Sundell J, Hulmi J, Rossi J.  [Whey protein and creatine as nutritional supplements]. Duodecim. 2011;127(7):700-5. PMID: 21553504
8.         Rawson ES, Venezia AC. Use of creatine in the elderly and evidence for effects on cognitive function in young and old. Amino Acids. 2011 May;40(5):1349-62. Epub 2011 Mar 11. PMID: 21394604
9.         Bemben MG, Witten MS, Carter JM, Eliot KA, Knehans AW, Bemben DA. The effects of supplementation with creatine and protein on muscle strength following a traditional resistance training program in middle-aged and older men. J Nutr Health Aging. 2010 Feb;14(2):155-9. PMID: 20126965
10.       Cribb PJ, Williams AD, Hayes A. A creatine-protein-carbohydrate supplement enhances responses to resistance training. Med Sci Sports Exerc. 2007 Nov;39(11):1960-8. PMID: 17986903
11.       Rawson ES, Venezia AC. Use of creatine in the elderly and evidence for effects on cognitive function in young and old. Amino Acids. 2011 May;40(5):1349-62.
12.       Candow DG, Chilibeck PD. Potential of creatine supplementation for improving aging bone health. J Nutr Health Aging. 2010 Feb;14(2):149-53. PMID: 20126964
13.       Rawson ES, Venezia AC. Use of creatine in the elderly and evidence for effects on cognitive function in young and old. Amino Acids. 2011 May;40(5):1349-62.